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Escrever sempre foi um hobbie e uma forma de tratamento para os momentos mais difíceis ao longo da minha formação como indivíduo. Nunca imaginei que meu trabalho viria ao encontro de tantas pessoas. Que tantos se identificariam com os sentimentos com os quais lido em meus trabalhos. Criei esse blog como um backup de minhas poesias, por medo de que se perdessem caso não as tivesse em rede. Hoje tenho um público cada vez maior e que, mesmo com minhas prolongadas ausências, continua a acompanhar minhas postagens. Agradeço pelo interesse, de verdade.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Pai

 Sinto falta do seu jeito tosco

Seu gosto musical duvidoso

Do jeito despreocupado 

Com que você cantava errado.


Sua vida foi uma longa viagem

Eu fui breve passageiro nela

Nunca consegui decifrar seus segredos

Tão pouco você chegou a me conhecer 


Nossa relação foi como um lago congelado

Nós  só arranhamos a superfície do gelo, 

Enquanto o profundo do nossos sentimentos permaneceu intocado


Mas eu gostava de te ver

Eu esperava sempre ansioso pelo seu retorno incerto

Descomprometido, despretensioso 

Vinha como um pássaro migratório de passagem

Me levava em suas asas, voando baixo na estrada

Milhas sem fim, cantando seu som desafinado.


No fim, sua jornada continuou para além do horizonte 

Onde eu não posso mais lhe acompanhar.

Nunca mais retornará ao ninho, pois jaz sob o chão 


Não mais cruzará pelas estradas, por onde tanto passaste 

Não mais tornarei a ouvir seu canto torto

E esse silêncio me dói 


Sua alegria singela, contagiante 

Agora é um luto amargo para quem te amava

E quem não te amou?


Por onde passava, deixava sempre sua marca

Sua curiosidade juvenil e empolgação trivial

Se convertia em admiração nos olhares alheios


Inventivo, inteligente, mas sempre humilde

Orgulhoso, apresentava seus inventos sem soberba

Arrancando suspiros de surpresa e admiração 


Hoje, nada mais pode criar. 

Seu trabalho ficou inacabado, como sempre.

Sempre esperançoso de que um dia, um dia ele seria retomado

Mas esse dia nunca chegou. 

E você me deixou. 

Esperando como uma criança aguardando o retorno do pai.

Um comentário:

Krúcifer disse...

Meus pêsames, sr. Dalua...