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Escrever sempre foi um hobbie e uma forma de tratamento para os momentos mais difíceis ao longo da minha formação como indivíduo. Nunca imaginei que meu trabalho viria ao encontro de tantas pessoas. Que tantos se identificariam com os sentimentos com os quais lido em meus trabalhos. Criei esse blog como um backup de minhas poesias, por medo de que se perdessem caso não as tivesse em rede. Hoje tenho um público cada vez maior e que, mesmo com minhas prolongadas ausências, continua a acompanhar minhas postagens. Agradeço pelo interesse, de verdade.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Jogo de Azar

Castelo de cartas marcadas
Jogo de azar sem vencedores.
Tente a sorte, puxe uma carta
E veja o mundo inteiro ruir.

A Dama de Copas foi descartada
O Valete de Paus foi posto na mesa.
Coringa na trinca e um Ás na manga
Aposta muito alta para você. 

Peões sacrificados, 
A vida em xeque. 
Baralho de sonhos queimado
E fim de jogo.


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Tal Como as Cicatrizes

Dediquei belas palavras tal como belos sentimentos
Sacrifiquei versos, tempo, sangue e lágrimas
Investi mais do que podia esperar receber.
Cada poema que foi recitado com juras de eterno amor
Cada letra, sílaba, sentimento posto a limpo
Um desabafo sincero, um pedido de socorro, uma alma aflita.
A cada momento que passei, refleti e mudei
Mas as palavras são eternas enquanto tal
Mesmo que o sentimento tenha passado,
A poesia ficou. Tal como as cicatrizes.

O Silêncio

O remédio para o coração ferido
O veneno que destrói a alma

A resposta do sábio
A afronta do rude

O esconderijo da dor
A morada da calma

Terno nos beijos
Profundo nas lágrimas.

Entre os Dedos

Entre os dedos escorrem os momentos
Únicos em cada gota cristalina
Em um oceano de lembranças.

Tentamos preservar o presente na memória
Mas como o gelo fino que se desmancha
Tudo vira passado evanescente.

Como as águas do rio mudam
Mudamos nós em seu leito
E o que fomos se desfaz a cada marola.

Somos apenas um reflexo trêmulo  
Distorcido na água corrente
Do que um dia já fomos.

Nadamos futilmente  contra a correnteza
Tentando reverter o curso do tempo
E acabamos afogados em nostalgia.






Admirável Gado Novo

Manada humana pastando sonhos
Ruminando ideais e idéias prontas
Ração matinal

Vagando em campos cercados
Com bela vista para o mar
De costas para o matadouro

A manada é guiada junta
Pelos ferozes cães leais a lei
Que com ladrados e mordidas a conduz

Os pastores, do alto espelhado, assistem
O espetáculo que é a manada em curso
Em rumo eterno para lugar algum.

 


Corda-Bamba

Andamos cotidianamente sobre uma corda-bamba
Sobre um profundo e obscuro abismo sem fundo
Inevitavelmente iremos, um dia, enfim cair lá.
Deus, para quem acredita, é a rede escondida no escuro.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Rotina

Sigo empilhando corpos sobre a pia
Detrítos, atrítos e pratos
Prisioneiro em fuga, de si
Desejo, compromisso e sono.
A rua se abre plena
Pura, desnuda e atrativa
Dos desejos e anseios,
Amante casta, devota e ingrata
Dos vícios sem virtude se faz mãe
Das desilusões, das desgraças.
A casa, prisão, paraíso
Do lar, do afago e amparo
Ao sufocante descontentamento.
Do dia a dia se faz tormento
De sua falta, o lamento.
Lar e rua, como sol e lua
Juntos em um.

Lembrança Afogada

O vento, aríete implacável, que arrasa os sonhos e a fantasia,
É a voz do tempo que leva a vida dos incautos adormecidos
Que se arrasta rápida pelas dobras da ampulheta da agonia
Areia fina, de oníricos castelos desmanchados e esquecidos.


A nostalgia nos convida a reviver o que perdemos
Mas que profundamente enterramos no peito rígido
Por mais dolorosa a lembrança a qual esquecemos
O esquecer é afundar em turbulento mar frígido.

A corrente leva rápido para o turvo e profundo fim
Como a areia que o vento leva, a vida passa veloz
Sem ar, sem voz, adormecida jaz, sob véu de cetim
Mas a lembrança segue viva, nas asas de um albatroz.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Deserto de Silício

Telas cheias não preenchem nosso vazio
A máquina sem alma não alivia nossa dor
Afundamos nas teias ardis
E quanto mais fundo entramos na rede
Mais nos afastamos de nós.

Escudo de covardes, tolos e desgarrados
Descarados e mascarados
Habitantes da terra de ninguém
Onde o jester é rei.

Almas secas, solitárias e esquecidas
Seres sem face que nos cercam
Deserto virtual
Do silício, o silêncio omnipresente.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O Pesadelo Emerge

Contemplo o vazio semblante
O espelho que reflete o medo
Sentimento frio que acalenta minha noite

Olhos que me espreitam
Bocas que me devoram
Garras negras que rasgam a luz

Sou tragado para dentro do pesadelo
Gritando para acordar,
Enquanto me debato futilmente

Os gritos acordam as bestas
Sou devorado em agonia viva
E a morte se recusa a me salvar

Desperto do sonho, o pesadelo emerge
A realidade gélida que me angustia
Que voltem as bestas, que me salvem da dor